« ... se acharam em uma formosa baía, por onde se lança no grande Oceano Ocidental um Rio, maior em proveitos de pescarias e navegações, que em quantidade de águas. Vendo Túbal o bom sítio da terra, e os que consigo trazia enfadados de navegação tão larga, determinou fazer naquele lugar seu assento... ...uma povoação ... ...ordenada com as brandas Leis, e pouco maliciosos costumes daquele novo mundo... ... Aqui viveu Túbal alguns anos... ...e dele se deu nome à nova povoação, que fundara, chamando-lhe Setúbala... ...esta povoação é o que no tempo de agora, com mui pequena corrupção do primeiro nome, chamamos Setubal, assaz conhecida no Reino de Portugal, e muitos fora dele... »
in Frei Bernardo de Brito, Monarquia Lusitana, Parte I, Lisboa, 1973, fls. V-7
É devida a Frei Bernardo de Brito a mais conhecida lenda sobre a origem do nome de Setúbal. Lenda poética que atribui a origem da cidade ao facto de Túbal, neto de Noé, ter aportado acidentalmente a esta "formosa baía" e dela se ter prendido de encantos. Menos poéticas, porém mais plausíveis, são as hipóteses de que a origem da cidade tenha sido a povoação celta de Cetóbriga, que se erguia na margem esquerda do Sado ou a herança do nome do rio Xetubre. Incontornável é o facto de Setúbal se situar junto do local onde floresceu Cetóbriga. E até à conquista de Alcácer do Sal, em 1217, Setúbal não é referida. Após a conquista de Alcácer, Setúbal ganha importância nomeadamente com a sua doação à Ordem de Santiago por D. Sancho II, em 1237.
Tendo nascido com duas freguesias, Santa Maria - numa colina - e S. Julião nas terras baixas, Setúbal tem um progresso sempre ligado ao rio: a exploração do sal, a pesca e o comércio marítimo eram as grandes fontes de riqueza da cidade. Só no Séc. XIX surgem as primeiras fábricas de sardinha, ganha fama o vinho moscatel e a vila de Setúbal passa a cidade (em 1860). Já neste século, Setúbal mantém-se como região em que a actividade fabril - essencialmente conserveira - se conjuga harmoniosamente com as vinhas e os laranjais. Na década de 60 implanta-se na região a indústria naval e automóvel.
O distrito regista entre 1960 e 1991 um aumento populacional de 88.9%. Hoje, Setúbal é uma cidade moderna que não abdica da sua costela de além Tejo. A remodelar-se profundamente, já se não encontram as laranjeiras a bordejar as ruas mas ainda se honram Bocage e Luísa Todi como filhos dilectos da terra. E o passeante que queira descontrair-se e apreciar as belezas da região poderá disfrutar dum casamento quase único no nossa país: dum lado a Serra da Arrábida: «Reflectindo-se no espelho incrivelmente azul e límpido do oceano, em reentrâncias bordadas a areia branca e a espuma, a Arrábida, verde, azul, roxa, com ornamentos de marfim-calcário, surge, num dia de sol, como uma maravilha da natureza!
É, talvez, o mais paradisíaco trecho do litoral português...»; do outro lado, a península de Tróia, outra jóia da natureza com o Sado a casar-se com o oceano no local em que o "mar português atinge a sua perfeição, «imaterial... feito de poeira e de luz»".