Um escravo negro, depois de muitos mal-tratos, a que continuamente o submetia seu senhor, toma a firme resolução de acabar com tanto sofrimento.
FOGE!
Em verdadeira disparada erra de colina em colina, de bosques em bosques, até que surgi uma prainha deserta, mas em seguida, embrenha-se novamente na mata nativa, tentando afastar-se o mais depressa possível das mãos de seu carrasco dono.
Depois de muito caminhar, já fatigado, esbarra do lado de cá da Pinguela, com a triste e silenciosa Lagoa Negra.
É pequena, e suas águas, sob a sombra das florestas que rodeiam, têm a cor indicativa do seu nome.
SENTA-SE!
Reflete então sofre as dores sofridas e a dolorosa condenação a que está sujeita a sua raça, e a impossibilidade em que se acha de reagir. Voltar para a casa de seu senhor é continuar o seu longo martirológio: prosseguir fugido é, além do perigo de ser pego, um outro martírio também.
RESOLVE!
Lança um olhar ao redor e seus olhos descobrem instintivamente uma copa de figueira, cujos ramos verdejantes beijam a fímbria do líquido sudário.
Levanta-se, dá alguns passos, procura e encontra uma corda. Atira-a de encontro a um galho, e depois dela presa neste, amarra a outra ponta no pescoço, abaixa os braços, encolhe as pernas e......fica dependurado.
ESTÁ MORTO!
Conta a lenda, porém, que deste momento em diante canoas brancas cruzam a lagoa em diversas direções, enquanto luzes misteriosas brilham nas florestas marginas, e que o mesmo negro, ora embarcado nessas canoas, ora a pé ou trepado nas árvores, aparece naquelas paragens, cantando melancólicas canções.
A Lagoa Negra é uma lenda triste que nos ajuda a compreender o sofrimento causado pela escravidão. Esse foi um tempo sombrio para a história brasileira e para os brasileiros. Mas engana-se todo aquele que pensa que isso faça parte de um passado distante. A escravidão sempre existirá, por vezes mascarada, mistificada, enquanto o homem caminhar por essa terra. Isto porque, o mundo funciona por meio de estruturas de poder e algumas pessoas que exercem o poder, o buscam para compensar-lhes a fragilidade e vulnerabilidade.
Uma pessoa fraca no poder nunca será generosa, porque encara perguntas ou possibilidades alternativas como ameaça à sua supremacia e dominação. Ela sempre exigirá total controle. Entretanto, quando controlados, somos sempre tratados como "objetos", em vez de "sujeito".
O controle também asfixia a nossa individualidade, nos impedindo de sermos criativos. Em um mundo onde somos controlados, onde o poder predomina, tudo é determinado por uma ética de competição. Já em um mundo onde podemos exercer a nossa criatividade, onde um dom está envolvido, não haverá competição.
Para sermos mais felizes, nossa vida deve ser o cenário das possibilidades e da verdadeira expressão.
Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto